Vivemos em um mundo onde os sentimentos se misturam como ventos numa tempestade. Há dias em que a alma se sente em paz, e outros em que é tomada pela tristeza ou inquietação. Dentro de nós convivem o caos e a harmonia, a luz e a sombra, a serenidade e o medo. Essa oscilação não é um erro da criação, mas parte do mistério da vida humana: Deus nos fez capazes de sentir profundamente, para que por meio desses sentimentos possamos aprender, amadurecer e encontrar o verdadeiro sentido da existência.
Cada pessoa carrega uma história única, com alegrias e dores, quedas e recomeços. No entanto, na linha do tempo e do espaço, essas histórias não correm isoladas. Elas se cruzam, se tocam e se influenciam mutuamente. Nada acontece por acaso. Há encontros que transformam, palavras que curam, presenças que despertam o que há de melhor em nós. E, assim como no mundo material as tempestades purificam o ar e fazem brotar a vida, na dimensão espiritual, as tribulações e os sentimentos que se chocam dentro de nós podem ser caminhos de purificação e crescimento.
Na Bíblia, vemos essa realidade em muitos personagens. José foi traído pelos irmãos, humilhado e esquecido, mas sua dor o conduziu à reconciliação e ao perdão. David, rei e profeta, viveu intensamente a alegria e o arrependimento, cantando nos Salmos as tempestades de sua alma diante de Deus. E o próprio Cristo, no Jardim do Getsêmani, mostrou que a verdadeira vitória espiritual nasce quando entregamos nossos sentimentos ao Pai celestial e deixamos que Sua vontade prevaleça sobre a nossa.
Os Santos Padres da Igreja Ortodoxa também viveram essas tempestades interiores. A luta interior entre luz e trevas, entre humildade e orgulho, é o campo onde a graça de Deus age com maior força. São João Clímaco ensinava que as paixões e emoções desordenadas não devem ser exatamente negadas, mas transformadas pela oração, pela paciência e pela vigilância do coração.
Assim, na vida espiritual, o movimento dos sentimentos é semelhante ao das ondas do mar. Ora se elevam, ora se acalmam. Mas o importante não é o estado das águas, e sim a firmeza da âncora: Cristo. Quando Ele é o centro, mesmo em meio à tempestade, há direção e esperança.
Cada história humana é um fio no grande tecido da providência divina. O entrelaçar desses fios, muitas vezes incompreensível aos nossos olhos, revela o cuidado constante de Deus, que faz brotar luz onde só havia confusão, e paz onde parecia haver apenas tumulto.
No fim, as tempestades da alma não vêm para nos destruir, mas para nos conduzir ao porto da confiança em Deus. E é nesse encontro entre sentimentos, histórias e destinos que descobrimos que tudo, absolutamente tudo, pode se tornar caminho de salvação.
16.10.2025
+ Bispo Theodore (El-Ghandour)








