Muitos dizem: “Não é preciso ir à igreja para ter fé. Deus está em todo lugar.” De fato, Deus está presente em toda a criação. No entanto, a fé cristã ortodoxa ensina que há uma diferença entre a presença geral de Deus e a Sua presença sacramental e comunitária na Igreja.
Desde os tempos apostólicos, os cristãos se reuniam em lugares consagrados “para ouvir o ensinamento dos apóstolos, viver em comunhão, partir o pão e dar graças” (Atos 2:42). Eles não se reuniam apenas por hábito, mas porque reconheciam que ali o Céu tocava a Terra. Era ali, em torno do altar, que se tornavam um só corpo em Cristo.
Na visão da Igreja Ortodoxa, é verdade que a Igreja não é apenas o prédio, mas a comunhão viva dos fiéis em Cristo. Contudo, essa comunhão precisa se expressar concretamente num lugar sagrado, pois a fé cristã não é abstrata: ela se encarna. Por isso Cristo não rejeitou o Templo, Ele o purificou e o chamou de “Casa de Meu Pai”.
O próprio Deus, no Antigo Testamento, ordenou a Moisés a construção da Tenda da Aliança (Êxodo 25–27), um lugar onde Ele habitava no meio do povo. Deus deu instruções detalhadas sobre cada parte dessa tenda, mostrando que o culto a Ele deveria ter um espaço consagrado, separado do uso comum. Aquela Tenda era o sinal visível da presença de Deus, o centro espiritual do povo de Israel.
Na Tradição Ortodoxa, essa Tenda é vista como uma pré-figuração da Igreja, o templo onde Deus continua a habitar entre nós, agora em Cristo. Quando entramos na Igreja e participamos da Divina Liturgia, não estamos apenas “indo a um prédio religioso”. Estamos entrando num mistério, num espaço santificado pela presença real de Deus.
São João Crisóstomo disse: “Não se pode ter Deus como Pai sem ter a Igreja como Mãe.” Isso significa que a vida cristã não é individualista. Precisamos uns dos outros, precisamos do altar, da Eucaristia, da oração comum. Na Igreja recebemos os Santos Mistérios, ouvimos a Palavra de Deus, somos purificados e fortalecidos.
Por isso, ir à Igreja não é uma obrigação externa, mas uma resposta de amor. É atender ao chamado de Cristo: “Fazei isto em memória de Mim.” É reconhecer que Deus, desde o Antigo Testamento, quis ter um lugar visível de encontro com o Seu povo. Quando o cristão se ajoelha diante do altar, ele está no mesmo movimento que Moisés diante da Tenda da Aliança, que os Apóstolos ao redor do Senhor na Última Ceia, e que os anjos diante do trono de Deus.
Não vamos à Igreja apenas para “cumprir um dever”, mas para reencontrar nossa verdadeira casa. É lá que o coração se aquieta, que a alma se alimenta e que Deus continua a habitar no meio do Seu povo — agora e sempre.
10.10.2025
+ Bispo Theodore (El-Ghandour)








