ENTRE CORREÇÕES E ELOGIOS: QUEM REALMENTE AMA A SUA ALMA

Vivemos num tempo em que as pessoas buscam mais elogios do que a verdade. Gostamos de ouvir palavras doces, mesmo quando não nos fazem bem. Mas a Bíblia e a vida dos santos nos lembram que o verdadeiro amor não é bajulação, e sim correção. Quem nos corrige com sinceridade deseja nossa salvação. Quem nos elogia até no erro, ainda que sorrindo, coloca-nos no caminho da ruína.

No livro dos Provérbios, está escrito: “Melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto. Fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos de quem odeia são enganosos” (Provérbios 27:5-6). Essas palavras nos mostram que a correção, por mais dura que pareça, é um ato de cuidado. O pai ou a mãe que chamam a atenção do filho, o irmão ou a irmã que advertem com amor, o pai espiritual que corrige seu filho espiritual, todos agem como médicos da alma. A ferida do bisturi dói, mas salva. Já o elogio vazio, que encobre erros, é como veneno doce que mata lentamente.

Na história da Igreja, vemos como os grandes santos sempre se deixaram corrigir. São Basílio, o Grande, famoso pela sua sabedoria, aceitava repreensões humildemente, lembrando que todo homem é chamado à santidade e precisa da verdade para chegar lá. São João Crisóstomo, cujo apelido “Boca de Ouro” vinha da sua eloquência, foi amado e odiado porque não elogiava os erros dos poderosos. Pelo contrário, com coragem, denunciava injustiças e chamava ao arrependimento. Muitos se ofenderam, mas outros encontraram a salvação por causa de suas palavras firmes.

Também encontramos esse ensinamento na vida monástica. Os monges do deserto buscavam o conselho dos anciãos não para receber palavras de conforto enganoso, mas para ouvir a verdade, mesmo que dura. Um discípulo que fosse elogiado em seus erros era considerado perdido, pois não teria como crescer no caminho da virtude.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o maior exemplo de correção amorosa. Ele não escondeu a verdade dos seus discípulos. Quando Pedro tentou afastá-lo do caminho da cruz, Jesus o repreendeu duramente: “Para trás de mim, Satanás!” (Mateus 16:23). Não foi rejeição, mas amor. Jesus queria salvar Pedro do engano. Mais tarde, esse mesmo apóstolo, corrigido pelo Senhor, tornou-se a rocha da Igreja.

O inimigo da nossa alma é astuto. Muitas vezes ele não nos ataca com insultos, e sim com aplausos. Ele nos faz acreditar que estamos bem, mesmo quando caímos no pecado. Assim, nos afasta da vigilância e nos adormece. Os Padres da Igreja alertam: o elogio exagerado é muitas vezes mais perigoso que a crítica. Porque a crítica nos faz olhar para dentro, mas o elogio vazio nos faz fechar os olhos.

Devemos aprender a valorizar quem nos corrige com amor, seja um pai ou uma mãe, um irmão ou uma irmã, um pai espiritual ou um verdadeiro amigo. Essas correções são sinais da providência de Deus em nossa vida. Ao contrário, devemos desconfiar daqueles que, para agradar, elogiam até os nossos erros, pois estes não desejam a nossa santidade, mas a nossa queda.

Que possamos pedir a Deus a humildade para aceitar correções e a sabedoria para discernir os elogios. Assim caminharemos no espírito dos santos, lembrando sempre que o amor verdadeiro não é conivente com o erro, mas conduz à verdade que liberta.

03.10.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour

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Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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