Vivemos tempos de profundas transformações culturais e sociais, em que a própria essência da vida cristã é constantemente questionada. Entre os valores mais atacados estão a virgindade e a castidade, tesouros que a Igreja sempre guardou com reverência e indicou como caminhos de santidade.
Hoje, em meio a uma sociedade que exalta os desejos da carne e relativiza toda forma de moralidade, esses dons parecem esquecidos e ridicularizados.
A Bíblia Sagrada nos lembra que o corpo é templo do Espírito Santo: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, e que recebestes de Deus? Já não vos pertenceis. Fostes comprados por um preço. Glorificai, portanto, a Deus no vosso corpo” (1Cor 6:19-20).
O próprio Cristo nasceu de uma Virgem, santificando para sempre o valor da pureza. A Mãe de Deus não conservou Sua virgindade apenas antes do nascimento de Cristo, mas também permaneceu Virgem durante e após o parto, testemunhando que a virgindade não é perda, mas plenitude no Espírito.
São Paulo também exorta: “A vontade de Deus é a vossa santificação: que vos abstenhais da imoralidade sexual, que cada um saiba possuir o seu corpo em santidade e honra” (1Ts 4:3-4).
São João Crisóstomo escreveu que “a virgindade é uma flor da Igreja, um fruto precioso que se oferece a Cristo como sacrifício vivo”. Para ele, a castidade não era uma negação da vida, mas uma maneira de viver com inteireza para Deus.
São Basílio Magno ensinava que “aquele que guarda a castidade participa já, de certo modo, da vida angélica”, pois antecipa no corpo a pureza que se espera na vida eterna.
Santo Isaac, o Sírio, lembrava que a luta pela castidade é uma batalha interior: “O corpo puro é como um altar; mas se o coração não for purificado, o altar torna-se manchado.”
Assim, a virgindade e a castidade não são uma realidade meramente física, mas sobretudo espiritual, que envolve mente, coração e desejo.
Vivemos numa era em que a pornografia, a hipersexualização da juventude e o desprezo pela família corroem o coração humano. O que antes era motivo de honra e vigilância espiritual, hoje é alvo de deboche.
A cultura atual prega que cada um deve “seguir seus instintos”, transformando o corpo em mercadoria e prazer em fim absoluto. Crianças são expostas a conteúdos que deformam sua inocência, jovens são incentivados a confundir liberdade com libertinagem, e a própria palavra “castidade” tornou-se estranha aos ouvidos modernos.
São Paísios do Monte Athos, ao falar do estado do mundo, dizia: “A imoralidade foi legalizada, e a virgindade é considerada uma doença.” Essas palavras ressoam de forma ainda mais dura hoje, quando vemos famílias destruídas, jovens escravizados pelos vícios e sociedades inteiras perdendo o sentido da santidade da vida.
A Igreja não apresenta a virgindade e a castidade como imposições pesadas, mas como dons que libertam e elevam o ser humano. O cristão é chamado a santificar seu corpo e a viver sua sexualidade de modo responsável, no matrimônio, ou em consagração a Deus.
Preservar a virgindade e cultivar a castidade significa colocar a vida em ordem segundo o plano de Deus. A luta contra a impureza é tanto moral como espiritual, pois cada queda no campo enfraquece a alma.
Hoje, mais do que nunca, é urgente recuperar o sentido da pureza, ensinando às novas gerações que a verdadeira liberdade não está na submissão aos desejos, mas no domínio sobre eles.
A virgindade e a castidade estão, de fato, em perigo no mundo contemporâneo. Mas a Igreja continua a anunciar que esses dons não são antiquados nem irreais: são caminhos de luz. Assim como o mundo tenta apagar a beleza da pureza, Deus continua a suscitar entre nós homens e mulheres que, pelo testemunho de suas vidas, mostram que ainda é possível viver em santidade.
O Senhor nos chama a resistir à correnteza do mundo e a glorificá-Lo com corpo e alma, lembrando que “bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5:8).
01.10.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour







