A Igreja Ortodoxa vê a paz não como um ideal humano, mas como o estado natural querido por Deus. Desde a criação, o Senhor quis que o ser humano vivesse em harmonia com Ele, com o próximo e com a criação. A guerra, a violência e o ódio são sinais de um mundo ferido pelo pecado, que se afastou da luz divina. Por isso, mesmo quando a guerra ou as ações de segurança se tornam inevitáveis, a Igreja nunca as celebra como “justas” ou “santas”. Elas são reconhecidas apenas como males tolerados, em meio à queda humana, para conter um mal maior ou proteger os inocentes.
Diante de situações como a atual no Rio de Janeiro, com operações policiais e clima de tensão, o olhar da Ortodoxia não se volta para ideologias, discursos políticos ou lados. A Igreja olha para as pessoas — cada uma delas portadora da imagem de Deus. Vê o sofrimento dos moradores, o medo das famílias, o risco dos policiais, a confusão dos jovens, a dor dos que perdem entes queridos. Todos, de maneiras diferentes, são vítimas de um mesmo drama espiritual: a ausência de Deus no coração humano e na vida social.
O cristão ortodoxo é chamado a não ver “inimigos”, mas irmãos feridos pelo pecado, pela injustiça e pelo desespero. Em vez de alimentar divisões, deve transformar a dor em oração e a indignação em compaixão. É um caminho difícil, porque exige o silêncio interior, o discernimento espiritual e a renúncia ao julgamento.
Nossa postura, portanto, deve ser profundamente baseada nas Escrituras:
• Orar por todos os envolvidos, especialmente pelas vítimas inocentes.
• Pedir a Deus discernimento espiritual, para que o medo e o ódio não endureçam o coração.
• Buscar a paz interior, lembrando que ela começa dentro de nós e se reflete em nossas palavras, atitudes e decisões.
A paz do mundo nasce da paz do coração. Quando o cristão mantém viva a luz da oração e da misericórdia, ele se torna, mesmo no meio da violência, um sinal do Reino de Deus que virá — onde “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor” (Ap 21,4).
30.10.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour








