Na vida espiritual, muitos imaginam que ser ortodoxo é nunca fraquejar, nunca duvidar, nunca se abater. Essa visão, porém, está distante da verdade revelada nas Escrituras e ensinada pelos Santos Padres da Igreja. A Ortodoxia não é um caminho para os invencíveis, mas para os perseverantes. Não é uma armadura de orgulho, mas um manto de humildade.
São Paulo, em sua segunda carta aos Coríntios, confessa: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10). Ele não diz isso por retórica espiritual, mas por experiência. O apóstolo que enfrentou prisões, naufrágios e perseguições, reconhecia que a força do cristão não nasce de si mesmo, mas da graça de Deus que age justamente na fraqueza. Assim, ser ortodoxo é reconhecer a própria limitação e deixar que Cristo habite nela.
O profeta Elias, que enfrentou os falsos profetas de Baal e fez descer fogo do céu, também se sentiu cansado e pediu a Deus que tirasse sua vida. No entanto, Deus o alimentou e o fez caminhar novamente (1Rs 19). A fidelidade de Elias não estava em nunca se sentir exausto, mas em continuar a escutar a voz suave de Deus mesmo no desânimo.
Os Santos Padres ensinaram que a vida cristã é uma luta interior constante, e não uma linha reta de vitórias. São João Clímaco escreveu: “Cair não é grave, mas permanecer caído é que é perigoso.” E Santo Isaac, o Sírio, afirmou que quem conhece sua fraqueza está mais perto de Deus do que aquele que pensa estar de pé por si mesmo.
O verdadeiro ortodoxo não é o que ostenta força, mas o que mantém a fidelidade mesmo na dor, no silêncio e na queda. A oração do coração – “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador” – é justamente o eco dessa fidelidade humilde. É o grito de quem reconhece a própria pobreza e se apoia na misericórdia divina.
A fidelidade, portanto, não é ausência de fraqueza, mas a decisão de continuar caminhando com Cristo mesmo quando os pés tremem. Ser ortodoxo é ser humano em plenitude: sentir, sofrer, lutar e reerguer-se. A força do cristão está na comunhão com Aquele que venceu o mundo, não em suas próprias conquistas.
Como disse São Siluan do Monte Athos: “Mantém teu espírito no inferno e não te desesperes.” Essa frase resume a essência da fé ortodoxa: reconhecer a própria miséria sem perder a esperança. Porque a fidelidade nasce da confiança, não da perfeição. Assim, ser ortodoxo não é ser forte o tempo todo. É permanecer fiel mesmo fraco, crendo que a graça de Cristo é suficiente, e que nas mãos d’Ele até a fraqueza pode se tornar caminho de santificação.
Nossa fé ortodoxa não nos pede que sejamos heróis sem lágrimas, mas discípulos com o coração perseverante. O caminho da salvação não se mede pela força que mostramos, mas pela fidelidade que guardamos mesmo quando tudo parece desabar. Há dias em que a oração pesa, em que a cruz parece grande demais, em que o coração se cala. Mas é justamente nesses momentos que nossa fidelidade se prova verdadeira. Cristo não nos julga pela ausência de quedas, mas pela coragem de levantar com Ele.
Cada lágrima derramada diante de um ícone, cada “Senhor, tem piedade” dito no meio da dor, é um sinal de fé. A fraqueza não nos separa de Deus; ela nos aproxima, porque nos faz depender mais D´Ele. Por isso, quando você se sentir fraco, não fuja da Igreja, não se afaste da oração. Traga sua fraqueza ao altar, porque é lá que ela se transforma em força. O Senhor não rejeita o coração ferido; Ele o habita.
Ser ortodoxo é viver com esperança no meio das lutas, confiando que a graça de Deus é maior do que qualquer desânimo. Que aprendamos com os Santos Padres a abraçar nossa humanidade sem vergonha, e a permanecer fiéis mesmo quando somos frágeis. Porque é nesse momento que Cristo, o Forte, Se manifesta em nós.
20.10.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour








