“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha…” — essa imagem de impossibilidade tornou-se um arquétipo cultural da nossa civilização. Não se pode entrar no Reino de Deus fechando-se em si mesmo com garantias, nem se espremendo lá dentro carregando toda a bagagem de autojustificativas e medos. Só se pode entrar diminuindo-se, tornando-se humilde, confiando, deixando para trás o que não pode ser carregado pela porta cujo nome é Cristo. Portanto, os discípulos perguntam com razão: “Quem, então, pode ser salvo?” E eis a resposta que abole o desespero e o orgulho: “O que é impossível para os homens é possível para Deus.”
A salvação não é uma conquista humana, mas um dom de Deus. Mas esse dom precisa ser aceito — e para isso, às vezes é preciso afrouxar o aperto mortal que se mantém nos apegos terrenos.
O Evangelho nos lembra hoje, mais uma vez: a pobreza como virtude é, antes de tudo, pobreza de espírito, quando Deus não é um apêndice da vida, mas o seu centro; quando as coisas não são senhores, mas instrumentos de amor; quando o tempo e a energia não são apenas “para si”, mas para os outros.
A mensagem do Evangelho se aplica a todos, independentemente de posição social ou estilo de vida. Nem todos são ordenados a vender tudo; todos são ordenados a permitir que Cristo controle tudo. A riqueza de todos não reside no dinheiro; para alguns, reside na educação, na reputação, no poder e em um senso inabalável de “justiça”. Examinemos a nós mesmos interiormente agora: o que nos entristece ao pensar em abrir mão disso para Deus ou para os outros? Há algo de que achamos mais difícil nos desapegar? Muito provavelmente, esse é o próprio “gargalo” da nossa alma.
Metropolita Ambrósio (Ermakov)
tradução de monja Rebeca (Pereira)







