Tenho encontrado muitos cristãos evangélicos movidos por uma fome verdadeira de Deus. Vejo pessoas que clamam por cura, que buscam uma vida de santidade e que desejam sentir o Espírito Santo habitando e conduzindo cada passo. Essa sede não é uma ilusão nem um sentimento exagerado. Ela revela um coração desperto, desejoso de Deus e atento ao que o Espírito faz no mundo.
Às vezes, é justamente essa busca sincera que leva alguns evangélicos a encontrar algo que não esperavam: a Igreja Ortodoxa.
Para quem cresceu em tradições marcadas pelo desejo de santidade, a Ortodoxia traz algo que soa familiar, mas abre portas mais profundas. Não seguimos o moralismo rígido que apareceu em certos movimentos do século XIX, mas levamos com grande seriedade o chamado de Cristo à pureza e à metanoia. Por isso jejuamos. Por isso confessamos. Por isso oramos com perseverança. Não para conquistar méritos, nem para negociar bênçãos, mas para sermos curados, transformados e configurados a Cristo. Chamamos isso de theosis, ou “deificação”. A salvação não é apenas perdão: é cura. Não é só livramento: é transformação. É união com Deus, pela graça, dentro da vida da Igreja.
Sei também que muitos evangélicos vêm de comunidades onde o culto é marcado por emoção, participação e espontaneidade. Quando entram numa igreja ortodoxa pela primeira vez, alguns se surpreendem ao descobrir que nossa Liturgia não é distante, nem fria. Ela é um diálogo entre o céu e a terra. Há movimento, resposta e canto. Há incenso que nos lembra que nossa oração sobe a Deus. Há gestos, ícones, procissões. Deus nos criou com corpo e alma, e por isso oferecemos a Ele tudo o que somos. A Liturgia fala à mente, mas toca também o coração e os sentidos, e nos eleva ao Mistério divino.
E quando falamos do agir do Espírito Santo? Muitos evangélicos procuram sinais, maravilhas e experiências intensas da presença divina. A Igreja Ortodoxa não trata os milagres como espetáculo, mas os reconhece com reverência quando eles acontecem. Vemos a ação do Espírito nos sacramentos, na vida dos santos e na oração constante da Igreja. Cremos que cada cristão recebe seu próprio Pentecostes na crisma, quando o Espírito unge e sela sua vida. Cremos que Deus toca o fiel na Eucaristia, porque ali recebemos o Corpo e Sangue de Cristo. Cremos que o Espírito está realmente presente em nossa caminhada.
Cremos também que o espiritual pode se manifestar no material. A santidade pode habitar em coisas simples — água, óleo, pão, vinho, ícones e relíquias — porque Deus Se fez carne e santificou toda a criação. A Encarnação transforma tudo. Por isso honramos aqueles que nos precederam, visitamos seus túmulos, pedimos suas orações e veneramos suas relíquias. Não se trata superstição, mas de amor, porque o próprio Deus escolheu agir por meio de instrumentos visíveis.
Queridos irmãos evangélicos, se vocês já sentiram o sopro do Espírito e buscam algo mais profundo; se desejam beleza, continuidade, enraizamento e comunhão com o Deus vivo; se procuram a plenitude da fé antiga que os primeiros cristãos professavam, então a Ortodoxia é o caminho que vale a pena conhecer.
Ela não apaga o fogo que Deus acendeu em vocês. Ela o orienta, purifica e santifica. Que o próprio Espírito Santo conduza cada coração com doçura e firmeza ao encontro da verdade que liberta e ilumina.
03.12.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour








