Somos ortodoxos, mas, essencialmente, não conhecemos a altura, a profundidade e a amplitude da Ortodoxia. Precisamos vê-la em toda a sua santidade.
O que é a Ortodoxia? A Ortodoxia é a verdade, o dogma correto concernente a Deus, aos seres humanos e ao mundo, tal como nos foi dada pelo próprio Deus encarnado através de Seus maravilhosos ensinamentos, sua vida santa e seu sacrifício redentor. Foi então articulada pelo coração e mente inspirados por Deus de São Paulo; foi trazida à vida pelo discípulo do amor e pelos outros Evangelistas e Apóstolos através da luz celestial do Espírito Santo; foi transmitida a nós pelos Padres movidos pelo Espírito de Alexandria, Constantinopla, Capadócia, Síria, Palestina e, mais tarde, do Monte Athos.
Por meio de sua sabedoria e santidade, seus sacrifícios e lutas, todos eles, desde São Policarpo, discípulo dos Apóstolos, até São Nicodemos, o Athonita, que repousou no início do século retrasado, transmitiram o reservatório da fé e da vida corretas, o tesouro da Tradição Ortodoxa.
A Ortodoxia é a maravilhosa síntese de dogma e ética, de teoria e prática. A Ortodoxia é também aquilo que foi formulado de maneira mais formal pelos Sínodos, aqueles abençoados congressos ecumênicos de toda a Igreja de Cristo ao redor do mundo.
Então, os Padres portadores de Deus, “reunindo toda a ciência da alma e congregados no Espírito Santo”, decidiram sobre os maiores problemas que interessam às pessoas espirituais e estabeleceram a base, os fundamentos da vida espiritual, que é a verdadeira civilização espiritual.
A Ortodoxia foi selada pelos mártires de todas as épocas, por todo o exército de milhões de heróis e confessores, homens, mulheres e crianças, através de seu precioso sangue. Dos anfiteatros de Roma aos campos de prisioneiros da Rússia, eles demonstraram que o Cristianismo não é apenas uma teoria, mas sim verdade e vida. É o mais maravilhoso heroísmo, a vitória sobre a violência bruta e o poder material, e é o triunfo do reino do espírito.
Há também os serviços que exaltam a Ortodoxia, com sua bela poesia e música inspirada, combinando o natural com o sobrenatural, o secular com o celestial, o individualismo com a interação social, a familiaridade com o profundo respeito e o facilmente compreensível com o misterioso. Na Igreja, em cada Liturgia, em uma atmosfera edificante de santidade, o sacrifício de Cristo é realizado, do qual todos os fiéis participam. Ali também, as conquistas dos gigantes da fé são cantadas e enfatizadas, sendo Maria, a Mãe de Deus, a principal figura nesse coro. O dogma é cantado, não apenas como verdadeiro, mas também como tendo respondido às predileções humanas.
E o ideal pelo qual o monasticismo lutou não é diferente do significado da Ortodoxia. Segundo os especialistas, o monasticismo ortodoxo foi o exército espiritual que lutou pela conquista da liberdade espiritual e pela plenitude do ser humano. Seu objetivo era “moldar a alma pela renovação do nous”.
Este ponto é precisamente o cerne do espírito monástico. Esse é o objetivo e o sucesso do monasticismo. As lutas espirituais dos ascetas são os novos Jogos Olímpicos do espírito. Elas conduzem as pessoas à vida filosófica por excelência, à glorificação. O caminho do ascetismo é o caminho da purificação e do retorno ao divino.
E a Ortodoxia conferiu a noção de santidade não apenas aos ascetas, mas a toda a Igreja Cristã. Dessa forma, elevou a moral da sociedade. Vemos isso particularmente nas percepções sociais.
A Ortodoxia é a progressão de pessoas plenas em direção ao seu Criador, em direção à deificação. Ela nos conduz ao nosso pleno desenvolvimento em Cristo e para Cristo. A Ortodoxia não é apenas a teologia por excelência; é também verdadeira psicologia, genuíno humanismo e socialismo. É um diamante multifacetado que, em todas as suas faces, produz novos reflexos da verdade.
Portanto, conheçamos a nossa Ortodoxia. Não teoricamente. Sintamo-la e experimentemo-la em toda a sua profundidade e amplitude. Só então seremos capazes de projetá-la e utilizá-la da melhor maneira possível.
Belíssima Ortodoxia, esposa de Cristo, adornada com sangue, que nós, indignos, jamais a neguemos, mas se os tempos e as circunstâncias nos chamarem, que nos seja permitido, amados, derramar a última gota do nosso sangue por ti. Amém.
Geronda Efraim de Filoteou e Arizona
tradução de monja Rebeca (Pereira)






