Sabemos que Deus chamou cada um de nós para algo único e especial. Ele nos deu talentos que nos permitem servir ao mundo de uma maneira singular e especial. Mais importante ainda, Ele nos deu os meios para glorificá-Lo nesta obra. Não há ninguém na Terra incapaz de glorificar a Deus de alguma forma.
No Evangelho da Festa da Apresentação da Virgem Maria no Templo, lemos no Evangelho de Lucas a história de Maria e Marta. Conhecemos bem essa história, pois ela é lida em outras Festas da Theotokos, tais como a Dormição e a Natividade. Sabemos que Cristo era amigo de Maria e Marta e as visitava com frequência. Enquanto nos preparamos para celebrar o Dia de Ação de Graças* (ndT: o autor do texto se dirige ao público norte-americano), podemos imaginar Marta correndo pela casa preparando o elaborado jantar. Podemos sentir a frustração dela ao ver sua irmã Maria sentada aos pés do Senhor, ouvindo-O ensinar, e perguntando em voz alta: “Maria, por que não vens me ajudar? E Senhor, por que não a fazes me ajudar?” Jesus diz a Marta que há uma coisa necessária — Ele mesmo — e que “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (Lucas 10:42).
Existem muitas maneiras de interpretar esta passagem do Evangelho — já falamos sobre “ser uma Maria em um mundo de Marta”. Já discutimos que talvez o mais necessário naquele dia não fosse a refeição elaborada, mas simplesmente a comunhão. Já falamos sobre não nos preocuparmos com pequenas coisas, como uma refeição que será comida, digerida e esquecida, e sim nos concentrarmos nas grandes coisas que realmente importam — fé, família e a administração de nossas vidas.
A mensagem de hoje é sobre disciplina e constância — se de fato vamos centrar nossas vidas naquilo que é “essencial” — nossa fé em Jesus Cristo — precisamos entender que isso exige disciplina e constância. E para termos disciplina e constância, precisamos ter desejo. E para termos desejo, precisamos ter algum conhecimento. Porque todas essas coisas caminham juntas, tanto nas questões espirituais quanto nas seculares.
Vamos analisar o que é preciso para ser um bom aluno: disciplina e consistência nos estudos. É preciso o desejo de ser um bom aluno. E é preciso ter consciência de que ser um bom aluno abre portas para a universidade, para uma carreira e para muitas outras possibilidades que não existem para quem não se dedica aos estudos.
É claro que um dos motivos pelos quais vamos à escola é para aprender uma habilidade ou uma profissão que nos permita trabalhar e, em última instância, servir a Deus e ao mundo, usando os talentos únicos com os quais Ele nos abençoou. Dito isso, também é necessário entender que temos a opção de usar nossos talentos ou não. Deus não nos força a usá-los. Ele, porém, nos responsabiliza pela forma como usamos o que nos foi dado.
A Virgem Maria recebeu a vocação mais singular que uma pessoa poderia ter: gerar o Filho de Deus em Seu ventre. Seus pais, Joaquim e Ana, também receberam uma vocação singular: trazer ao mundo a Menina Que cumpriria essa tarefa sagrada. Ela tinha fé, e eles também. Não conseguiam ter filhos como os outros. Naquela época, a infertilidade era vista como sinal de que o casal não tinha a graça de Deus. (Sabemos que isso não é mais verdade.) Assim, Joaquim e Ana carregaram um fardo pesado por toda a vida. Mesmo assim, permaneceram firmes na fé. Jamais vacilaram em seu amor por Deus.
Quando tiveram sua filha, Maria, entregaram-Na ao templo quando Ela tinha três anos. Não ficaram zangados nem decepcionados. Faleceram pouco tempo depois. Não estavam presentes quando Ela saiu do templo mais de dez anos depois. A Virgem Maria foi criada no templo por sacerdotes desde que entrou até os 14 anos de idade.
Naquele momento, saiu do templo e foi prometida em casamento a José quase imediatamente. Durante aqueles dez anos no templo, Seu caráter espiritual foi moldado, Seu coração e alma foram purificados, e Ela compreendeu que estava sendo preparada para uma tarefa única, especial e sagrada, mesmo sem necessariamente entender qual seria. Por isso, Ela Se manteve calma e respondeu obedientemente ao Arcanjo Gabriel, quando ele lhe disse que Ela geraria o Filho de Deus em Seu ventre, com as palavras: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em Mim segundo a Tua palavra” (Lucas 1:38).
Deus chamou cada um de nós para algo, talvez não de uma forma tão dramática e certamente não com um propósito tão dramático. Estamos prontos para atender a esse chamado? Estamos sequer prontos para ouvi-lo? Nossos corações, mentes e almas foram purificados a ponto de podermos ouvir Deus falando conosco? Tivemos a disciplina para aprender e a paciência para escutar? De fato, essas são coisas necessárias.
Ao iniciarmos a época festiva, enquanto nos apressamos com as compras, o preparo das refeições e outras tarefas estressantes que as festas podem trazer, não nos esqueçamos do essencial. Não nos esqueçamos de orar, de ler as Escrituras, de ir à igreja e participar aos Serviçod. Não negligenciemos a disciplina de fazer todas essas coisas. Porque a repetição da prática e a disciplina dessas coisas são o que edifica a mente, o coração e o corpo e, em última análise, as nossas vidas, para que possamos permanecer focados em Cristo e viver o chamado único com o qual Ele abençoou cada um de nós: glorificá-Lo de acordo com os nossos talentos e circunstâncias de vida.
“Disciplina” e “discípulo” compartilham a mesma raiz. É preciso disciplina para ser um discípulo. Concentre-se em viver uma prática disciplinada da vida cristã!
Sacerdote Stavros Akrotirianakis
tradução de monja Rebeca (Pereira)
