A severidade do clima e as flexibilizações no jejum
Estamos vivenciando o maravilhoso jejum da alegria da Natividade Nade Cristo, tão belo e tão apropriado para a rigorosa estação do inverno*. O tempo está constantemente inclemente, com geadas fortes, ventos, tempestades de neve, impiedade e severidade para o corpo. Aparentemente, é por isso que o Typikon nos permite algumas flexibilizações no jejum aos sábados e domingos, além de permitir o consumo de peixe.
Por que há flexibilização no Jejum?
Uma explicação deve ser dada para essas flexibilizações. Porque, meus irmãos, as flexibilizações na vida ortodoxa são permitidas para os fracos. Não para aqueles que realmente se esforçam no processo de jejum.
E, novamente, há muitos aspectos na observância do jejum. Eu consigo jejuar esplendidamente: comer feijão, uma variedade de guloseimas, petiscar com aperitivos — as iguarias culinárias que nos foram trazidas do Ocidente desde tempos imemoriais. Bem, agora cozinhamos todo tipo de invenção gastronômica… Além disso, não conhecemos mais, não vemos mais nosso antigo bolo de milho servido com abóbora branca turca. Não vemos mais placinda (tortas de queijo) com maçãs, com nossas tradicionais ameixas e arroz, quando nossas mães recolhiam a louça no início do período de jejum. Eram tigelas de barro, que ela colocava em uma bela cesta e levava para o sótão, trazendo de lá pratos de qualidade inferior. Colheres de pau e só. Todo mundo fazia isso.
Toda a família deve jejuar
Hoje em dia, as pessoas pensam: “Meu filho ainda é pequeno, não pode jejuar.” Sim, ele não pode jejuar, mas é o primeiro a fazer travessuras!
Um dia, uma mãe foi se confessar e o padre lhe disse: “Certifique-se de que toda a sua família observe o jejum.”
“Mas como isso é possível? Minha filha tem apenas quinze anos e não pode jejuar!”
E quem estava na discoteca no sábado? Ela estava caminhando com a filha e perguntou: “Elena, aonde você vai hoje à noite?” “Vou dar uma volta com uma amiga…”, respondeu ela. Então, ela não é muito nova para ir à discoteca, mas é muito nova para observar o Jejum?
Como jejuar de verdade?
E é assim que se faz. Vou dar-lhe mais um ponto a considerar: Jejum é jejum! No entanto, não importa realmente o que você come. Em primeiro lugar, o que importa é como você se serve da comida durante o jejum. Porque, por exemplo, você pode comer alimentos que não são permitidos no jejum, mas comer com muita moderação, com muita abstinência, e levantar-se da mesa pensando que seria bom comer mais um pouco. E esse “mais um pouco de comida”, se você não o servir, significa jejum. Se almoçarmos ao meio-dia ou à uma da tarde, e meia hora depois (ou meia hora antes do almoço) comermos outra colherada de comida ou uma maçã, uma castanha, uma banana, e depois um biscoito — e assim por diante o dia todo, nos tornaremos iguais aos nossos cavalos de antigamente, com um saco de ração pendurado ao lado da vara. Cada cavalo tinha o seu próprio saco de ração: ficava parado por um tempo, depois enfiava o focinho no saco com aveia e começava a mastigar!
O risco de jejuar em vão
E assim, nosso cristão é servido com comida o tempo todo, o dia todo, e “jejua”… Saiba que, neste caso, todo o seu jejum é anulado! Ele se perde! A mesa deve ser posta no mesmo horário todos os dias, o jejum deve ser observado com grande rigor e, entre as refeições, você não deve comer nada! Só então se manifestará um pouco de abstinência. Afinal, o que é o jejum em essência? É abstinência. Agora você pode comer, como dissemos, ou pode até jejuar no dia da Páscoa, quando lhe dizem: “Tome um copo de vinho, coma dois ou três pratos”. Mas, como ensinam os Santos Padres, tudo com moderação. E então você sempre jejua. Este é um atributo de um verdadeiro cristão: estar sempre em estado de vigilância e atenção em todos os aspectos.
Costumes ancestrais
Agora, maravilhosas festividades se aproximam, ligadas aos nossos costumes encantadores, com São Nicolau, o Taumaturgo — este pai dos presentes. Esses costumes, observados desde a antiguidade para a alegria de nossos filhos, estão cada vez mais próximos. Portanto, anunciem e contem a todos com antecedência sobre a grande festa! Assim, o caminho do jejum se ampliará antes do Dia de São Nicolau.
Saibam que este Jejum é o mais belo, o mais equilibrado e o mais moderado. Nós, romenos, por exemplo, estivemos sob duas esferas de influência — a grega e a eslava. Bem, o povo romeno aprendeu com ambas e, com o tempo, desenvolveu seus próprios costumes. E continua sendo uma grande alegria para nós visitar os idosos, as gestantes, as crianças e os enfermos. O padre diz ao chegar em cada casa: “Preparem-se para os dias santos!” — para a Páscoa, para a festa de São Pedro, o Nascimento de Cristo e a Dormição.
O jejum como repouso para a alma e o corpo
Há pessoas que usam a idade avançada e a enfermidade como desculpa para negligenciar o jejum, mas saibam que isso lhes é prejudicial! Porque o jejum, meus queridos, é recomendado para todos, de cima a baixo! Tanto no mundo espiritual quanto no científico, do senhor ao último caipira, do mais instruído ao mais humilde — o estado de repouso para a alma e o corpo é recomendado a todos.
“Mas eu não posso jejuar, porque tenho problemas no fígado… Meus rins e meu coração doem.”
Saibam que não há doenças no jejum, e a enfermidade não existe para prejudicá-los durante o Jejum.
Consciência, experiência e autocontrole durante o jejum
Mas partimos da ideia de que estamos doentes. Além disso, temos tudo à mão. E mesmo que um bispo ou um padre nos dê permissão para relaxar o jejum, cada um tem sua própria consciência. E tanto quem permite quanto quem é autorizado correm algum risco.
Alguém diz: “Não posso! O médico disse que não posso jejuar. Não posso!”
Tudo bem. Mas se o seu médico for cristão e tiver discernimento, saiba que ele não lhe dirá para comer alimentos proibidos pelo jejum, carne e produtos gordurosos durante um período de jejum devido à doença que você tem. Mas se ele não for cristão e nunca tiver experimentado doenças ou jejum, certamente dirá: “Você não pode jejuar! Coma!”
Portanto, se nossa salvação dependesse do médico, estaria em perigo.
Assim, aja de acordo com sua consciência, e não de acordo com o que seu corpo lhe dita. Pois você pode treiná-lo e moldá-lo ao longo de toda a sua vida. Se você o treinar na autodisciplina e nos limites, poderá direcioná-lo para onde quiser. Se você lhe der relaxamento e permissões, ele o guiará e, por fim, o conduzirá ao abismo e ao tribunal de Deus — não da maneira como você deveria ser, mas da maneira como você foi em sua vida.
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* Levamos em conta que os países do Leste Europeu (incluíndo a Romênia) se encontram no inverno durante o período do Jejum da Natividade, ao contrário do Brasil.
Arquimandrita Justin (Parvu)
tradução de monja Rebeca (Pereira)
