Caríssimos fiéis ortodoxos e buscadores,
Cresce o número daqueles que buscam a Missão Ortodoxa de São Cosme e São Damião acreditando que o Batismo pode ser realizado de qualquer forma, sob quaisquer circunstâncias, com qualquer intenção (ou nenhuma), sem compromisso real com a fé e a Igreja e até mesmo por quem não tem autoridade espiritual para batizar. Essas pessoas foram levadas ao entendimento equivocado de que a Igreja está tratando a questão com mero formalismo burocrático pautado em documentos. Argumentam que “Deus não pedirá papéis; basta a fé”. Entretanto, esquecem que a Igreja é a “coluna e sustentáculo da Verdade” (1Tm 3,15) e que o Sacramento não se apoia em emoções de momento, mas na fé viva e na vida eclesial.
Nisto, o primeiro ponto a observar é realmente a Fé: De que fé estamos falando? Estamos falando da Fé da Igreja, verdadeira e recebida dos Santos Apóstolos, ou de uma fé genérica, subjetiva, supersticiosa e imaginada para condescender com as próprias vontades do indivíduo? A diferença entre elas é clara, pois o Santo Apóstolo Tiago revelou, da parte do Espírito Santo, que a fé sem obras é morta (Tiago 2:14-26). E o que são as obras de fé se não a vida em conformidade com o Evangelho e participação ativa na vida da Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo? Fé não é declaração verbal em um ato isolado e destoante do que se vive na prática. Fé é vivência coerente com o que declarou diante do altar. Quem tem fé, vive de acordo com o Evangelho e a Doutrina da Igreja. Quem pede que a Igreja condescenda com seus desvios não demonstra fé, mas autoengano.
O Amor não é divorciado da Verdade e cabe à Igreja orientar o fiel a corrigir sua vida antes de aproximar do altar. É por amor divino que a Igreja quer que o fiel saia do templo abençoado e não carregando o juízo de Deus sobre sua cabeça.
No rito do Batismo, pais e padrinhos professam o Credo da Igreja e assumem o compromisso de criar a criança nela [na Igreja]. Quem se aproxima do altar para declarar com sua boca uma fé não vivida e assumir falsamente um compromisso que não será cumprido, não recebe a bênção de Deus, mas juízo, pois O Altíssimo não abençoa quem mente e jura em falso. Nessas condições seria melhor não batizar levianamente.
O segundo ponto é a documentação de uma fé vivida. Além do que o Santo Apóstolo Tiago escreveu sobre a fé, o Apóstolo São Paulo, em sua Segunda Carta aos Coríntios, acrescenta que _“Pois zelamos o que é honesto, não só diante do Senhor, mas, também, diante dos homens.” Quem, agindo honestamente, evita documentar seus atos ou preservar as provas de seus feitos? Certamente, Deus prescinde de todas as provas escritas porque conhece os corações e o que está oculto nas intenções humanas. Contudo, os documentos dão testemunho diante dos homens (comunidade de fiéis) de que sois servos fiéis e honestos do Deus Altíssimo, d’Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida e que quer de seus filhos que vivam os atributos da fé de Job: _“e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal”. (Job 1:1).
Aqui, a Fé se encontra com a honestidade e, juntas, atestam que o fiel age corretamente, vivendo uma vida em conformidade com a fé que professa. E, assim, zela pelo que é honesto, não só diante do Senhor, mas, também, diante dos homens. E, ao fazê-lo, se torna merecedor de se aproximar do altar em segurança para receber a bênção dos Santos Mistérios.
O fato é que, seja aonde for, quem age honestamente dá provas (obras) de sua fé e documentar a vida eclesial não é burocracia vazia, mas testemunho de retidão. Quem vive a fé de forma sincera não teme apresentar evidências de que está em comunhão com a Igreja.
Quanto ao argumento da desimportância da falta de autoridade eclesial de quem realiza o Batismo [se é um sacerdote de verdade ou um charlatão], importa alertar que quando alguém realiza Batismos sem ter autoridade espiritual (eclesiástica) para isso, o ato pode até ter valor simbólico para quem participa, mas não tem validade sacramental ou espiritual verdadeira.
Na tradição cristã, o Batismo é um Sacramento que exige autoridade dada pela Igreja. Cristo não mandou “qualquer um” batizar, mas confiou esse poder aos Apóstolos, que são a raiz do episcopado e do presbiterato. O poder de transmitir dons e ministérios sempre dado pela imposição das mãos dos bispos (1Tm 4,14; 2Tm 1,6). Isso fundamenta a sucessão apostólica: ninguém toma para si a autoridade, ela é conferida pela Igreja.
Santo Inácio de Antioquia revela a ordem verdadeira: _“Ninguém faça nada daquilo que concerne à Igreja sem o bispo. Somente o Batismo que é realizado com a aprovação do bispo é válido.”_ (Carta aos Esmirnenses).
Logo, se o Batismo é feito sem mandato ou sem vínculo legítimo com a Santa Igreja, não passa de uma encenação – um ato sem nenhuma validade sacramental – e nem o argumento de que _“o que vale é a fé”_ atribuirá valor ao ato, pois quem tem Fé Verdadeira não se contenta com uma encenação; busca o Sacramento real, ainda que precise ajustar sua vida para recebê-lo com dignidade.
Estou ciente de que essa realidade é dura e pouco convidativa àqueles que buscam uma via menos exigente, mas sempre foi assim (João 6:60). Contudo, a disciplina da Fé Ortodoxa não deve ser vista como uma barreira ou como portas fechadas. Ela é, na verdade, um convite às famílias a vir, ver, se assentar à mesa com os irmãos e ficar, ou seja, um chamado à fidelidade e à plenitude, um chamado para que cada família deixe de viver na superficialidade e encontre em Cristo o fundamento sólido da vida.
A Igreja não afasta ninguém, mas acolhe; não rejeita, mas conduz todos à verdade que liberta e ao amor que salva. Aproximar-se dela é entrar no caminho da comunhão, onde não há promessas fáceis, mas há a graça abundante de Deus que sustenta, transforma e renova. Assim, quem aceita viver a Fé Verdadeira não apenas recebe um rito, mas encontra uma morada: torna-se parte real da grande família de Deus, o Corpo Místico de Cristo [a Igreja], onde cada filho é amado, acolhido e chamado à santidade.
Em Cristo,
Padre Spiridon Chasse








