O AMOR DE DEUS E O AMOR HUMANO: DIFERENTES EXPRESSÕES DE UMA ÚNICA VOCAÇÃO

O amor é o centro da vida cristã. Ele é a essência de Deus e o chamado de cada ser humano, criado à Sua imagem e semelhança. O apóstolo João nos recorda: “Deus é amor” (1Jo 4,8). Porém, quando falamos de amor, percebemos que existe uma distância entre a perfeição do amor divino e a fragilidade das formas humanas de amar.

O amor de Deus é absoluto, incondicional e sem limites. Ele não depende de circunstâncias nem de merecimento. Cristo nos mostrou o que significa amar verdadeiramente: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Na Cruz, o Senhor ofereceu a medida perfeita desse amor, derramando Sua vida pela salvação de todos, inclusive de Seus inimigos.

São João Crisóstomo explica: “O amor de Cristo não se mede pelo que recebe, mas pelo que dá; e dá tudo, sem nada reter para si.”

Assim, o amor de Deus é criador, redentor e vivificante. Ele não apenas diz “Eu te amo”, mas age continuamente, sustentando o mundo, guiando os que O buscam e abraçando até os que d’Ele se afastam.

Já o amor humano, mesmo sincero, carrega marcas de imperfeição, de interesse e de limitação. Muitas vezes não conseguimos dizer “Eu te amo” com palavras, mas expressamos através de gestos simples e cotidianos:

• “Cuide-se.”

• “Você já comeu?”

• “Me ligue quando chegar em casa.”

• “Eu fiz isso para você.”

Essas frases podem soar banais, mas mostram um coração que deseja o bem do outro. São João Damasceno afirma que o ser humano, ao amar, “participa da energia divina que é o amor, ainda que de modo incompleto e frágil”.

Mesmo limitado, o amor humano é um reflexo, ainda que pálido, do amor de Deus. Ele mostra que fomos criados para sair de nós mesmos e nos voltar ao próximo.

O chamado cristão é deixar que o amor humano seja purificado e elevado pela graça divina. O amor de Deus não anula o humano, mas o transfigura. Quando cuidamos dos outros, mesmo nas pequenas coisas, participamos do mandamento supremo de Cristo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12).

São Máximo, o Confessor, ensina: “Quem ama a Deus, ama também o próximo. E quem verdadeiramente ama o próximo, já habita no amor de Deus.”

Assim, a ternura escondida em um “Cuide-se” ou em um “Eu fiz isso para você” torna-se uma faísca do fogo divino que ilumina e aquece o coração humano.

O amor de Deus é pleno, eterno e gratuito. O amor humano é pequeno, mas chamado à plenitude. Entre os dois, existe um caminho: o da graça que transforma nossas limitações em ocasião de santificação. Amar como Deus nos ama é a vocação de todo cristão.

Portanto, ao ouvirmos um simples “Você já comeu?”, devemos enxergar ali não apenas cuidado humano, mas também um reflexo da ternura divina que nos alcança no cotidiano. E, ao mesmo tempo, somos convidados a aprender de Cristo que amar é, sobretudo, doar-se — em palavras, em gestos, em silêncio, e até no sacrifício da própria vida.

19.09.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour

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Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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