Em um mundo onde as aparências muitas vezes substituem a verdade e o brilho exterior tenta esconder o vazio de dentro, há quem se canse de esperar frutos daquilo que nunca teve vida, e há quem insista em regar flores artificiais, acreditando que um dia elas florescerão. Com essa imagem podemos refletir sobre nossas relações, escolhas e até sobre nossa vida espiritual.
Quantas vezes investimos tempo, amor e energia em situações, amizades ou projetos que não têm raiz na verdade, na fé ou no bem? Tentamos dar vida ao que não tem essência. Buscamos reconhecimento onde só há vaidade, compreensão onde só há orgulho, e fidelidade onde reina o interesse. Assim, aos poucos, o coração se cansa — não porque o amor acabou, mas porque ele foi desperdiçado em terreno estéril.
Na vida espiritual, essa ilusão é ainda mais perigosa. Muitos querem os frutos da graça, mas sem o esforço da conversão; querem sentir a presença de Deus, mas não querem mudar o coração. Rezam por milagres, mas não cultivam a fé viva. É como colocar um vaso de flores artificiais diante do altar e esperar que ele exale perfume. O gesto é bonito, mas não há vida ali.
Cristo nos ensina que “a árvore boa dá bons frutos” (Mateus 7:17). As flores verdadeiras da alma nascem da sinceridade, da humildade e da comunhão com Deus. Elas exigem cuidado, oração, arrependimento e paciência. São frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, bondade e fidelidade (Gálatas 5:22).
A vida espiritual não é uma vitrine de aparências, é um jardim que cresce no silêncio da alma. Quando o coração é autêntico, mesmo que sofra, ele floresce. Mas quando se vive de aparências, nada frutifica — só há uma beleza plástica, fria e passageira. Por isso, é preciso discernimento: nem tudo o que parece vivo está vivo. Nem toda relação é verdadeira, nem toda palavra é sincera, nem toda alegria é espiritual. E quando percebemos que algo é artificial, a sabedoria está em parar de regar. Não por dureza, mas por amor à verdade.
Deus não nos pede que mantenhamos aparências, mas que busquemos autenticidade. Ele é o Deus da vida, não da ilusão. O coração que se volta para Ele nunca ficará estéril, porque a água viva do Espírito Santo faz florescer o que é verdadeiro, mesmo em meio ao deserto.
Assim, antes de continuar a regar flores artificiais, pergunte a si mesmo: o que estou alimentando, a verdade ou a aparência? E lembre-se: Deus só faz crescer o que tem vida.
06.10.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour
