GLÓRIA A DEUS POR TUDO! – MEMÓRIA AO “BOCA DE OURO”

São João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla, um dos Três Hierarcas [30 de janeiro/12 fevereiro], nasceu em Antioquia por volta do ano 347, filho de um comandante militar. Seu pai, Secundo, faleceu logo após o nascimento do filho. Sua mãe, Antusa, viúva aos vinte anos, não procurou casar-se novamente, dedicando-se, em vez disso, à educação do filho na piedade cristã. O jovem estudou com os melhores filósofos e retóricos. Mas, desprezando as vãs disciplinas do conhecimento pagão, o futuro hierarca voltou-se para o estudo profundo das Sagradas Escrituras e para a contemplação em oração. São Melécio, Bispo de Antioquia, amou João como um filho, guiou-o na fé e, no ano de 367, batizou-o.

Após três anos, João foi tonsurado como Leitor. Quando São Melécio foi exilado pelo imperador Valente em 372, João e Teodoro (que mais tarde se tornaria Bispo de Mopsuéstia) estudaram com os experientes instrutores da vida ascética, os presbíteros Flaviano e Diodoro de Tarso. O refinado Diodoro exerceu particular influência sobre o jovem. Com a morte de sua mãe, João abraça a vida monástica, a qual chamava de “verdadeira filosofia”. Logo, João e seu amigo Basílio foram considerados candidatos ao episcopado e decidiram retirar-se para o deserto para evitar isso. Embora São João tenha evitado o episcopado por humildade, ele auxiliou secretamente na consagração de Basílio.

Durante esse período, São João escreveu seus “Seis Discursos sobre o Sacerdócio”, uma grande obra de teologia pastoral ortodoxa. O santo passou quatro anos em busca de paz no deserto, vivendo a vida ascética sob a orientação de um experiente guia espiritual. E aqui ele escreveu três livros intitulados “Contra os Oponentes dos Atraídos pela Vida Monástica” e uma coletânea intitulada “Uma Comparação do Monge com o Imperador” (também conhecida como “Comparação do Poder Imperial, Riqueza e Eminência com a Verdadeira e Cristã Vida Monástica Amante da Sabedoria”), ambas obras marcadas por uma profunda reflexão sobre o valor da vocação monástica.

Durante dois anos, o santo viveu em completa quietude numa gruta, mas foi obrigado a retornar a Antioquia para recuperar a saúde. São Melécio, bispo de Antioquia, ordenou-o diácono no ano de 381. Os anos seguintes foram dedicados à elaboração de novas obras teológicas: “Sobre a Providência” (“Ao Asceta Estagério”), “Livro Sobre a Virgindade”, “À Jovem Viúva” (dois discursos) e o “Livro de São Babilônio e Contra Juliano e os Pagãos”.

No ano de 386, São João foi ordenado presbítero pelo bispo Flaviano de Antioquia. São João era um pregador esplêndido, e suas palavras inspiradas lhe valeram o nome de “Boca de Ouro” (“Crisóstomo”). Durante doze anos, o santo pregou na igreja, geralmente duas vezes por semana, mas às vezes diariamente, comovendo profundamente os corações de seus ouvintes.

Em seu zelo pastoral para proporcionar aos cristãos uma melhor compreensão das Sagradas Escrituras, São João empregou a hermenêutica, uma interpretação e análise da Palavra de Deus (isto é, exegese). Entre suas obras exegéticas encontram-se comentários sobre livros inteiros das Sagradas Escrituras (Gênesis, o Saltério, os Evangelhos de Mateus e João, as Epístolas do Apóstolo Paulo), bem como muitas homilias sobre textos individuais da Bíblia, além de instruções sobre as Festas, elogios aos Santos e homilias apologéticas (isto é, defensivas) (contra anomeus, judaizantes e pagãos). Como sacerdote, São João cumpriu zelosamente o mandamento do Senhor de cuidar dos necessitados. Sob a liderança de São João, a Igreja Antioquina providenciava sustento diário para até 3.000 virgens e viúvas, sem incluir nesse número os acamados, os errantes e os enfermos.

São João começou seu comentário sobre o Gênesis no início da Grande Quaresma de 388, pregando trinta e duas homilias durante o período de quarenta dias. Durante a Semana Santa, ele falou sobre como Cristo foi traído e sobre a Cruz. Durante a Semana da Páscoa, seu discurso pastoral foi dedicado à Ressurreição. Sua exegese do Livro do Gênesis foi concluída somente no final de outubro (388).

Na Páscoa do ano seguinte, o santo começou suas homilias sobre o Evangelho de João e, no final do ano de 389, dedicou-se ao Evangelho de Mateus. Em 391, os cristãos de Antioquia ouviram seus comentários sobre as Epístolas do santo apóstolo Paulo aos Romanos e aos Coríntios. Em 393, explicou as Epístolas aos Gálatas, aos Efésios, a Timóteo, a Tito e os Salmos. Em sua homilia sobre a Epístola aos Efésios, São João denunciou um cisma em Antioquia: “Digo-vos e testifico diante de vós que dividir a Igreja significa nada menos que cair em heresia. A Igreja é a casa do Pai celeste, um só Corpo e um só Espírito.”

A fama do santo pregador cresceu e, no ano de 397, com a morte do Arcebispo Nectário de Constantinopla, sucessor de São Gregório, o Teólogo, São João Crisóstomo foi convocado de Antioquia e eleito para a Sé de Constantinopla. Na capital, o santo arcebispo não pôde pregar com a mesma frequência que em Antioquia. Muitas questões aguardavam a atenção do santo, e ele começou pela mais importante: o aperfeiçoamento espiritual do sacerdócio. Ele próprio era o melhor exemplo disso. Os recursos financeiros destinados ao arcebispo foram canalizados pelo santo para a manutenção de vários hospícios para enfermos e dois albergues para peregrinos. Ele jejuava rigorosamente e comia muito pouco, e geralmente recusava convites para jantar devido ao seu estômago sensível.

O zelo do santo em difundir a fé cristã estendeu-se não apenas aos habitantes de Constantinopla, mas também à Trácia, incluindo eslavos e godos, e à Ásia Menor e à região do Ponto. Ele estabeleceu um bispo para a Igreja do Bósforo na Crimeia. São João enviou missionários zelosos à Fenícia, à Pérsia e aos citas, para converter pagãos a Cristo. Ele também escreveu cartas à Síria para trazer os marcionitas de volta à Igreja, e conseguiu. Preservando a unidade da Igreja, o santo não permitiu que um poderoso comandante militar gótico, que queria que o imperador recompensasse sua bravura em batalha, abrisse uma igreja ariana em Constantinopla. O santo empenhou-se muito em aprimorar o esplendor dos serviços religiosos: compilou uma liturgia, introduziu o canto antifonal para a vigília noturna e escreveu diversas orações para o rito da unção dos enfermos com óleo.

O santo hierarca denunciou a moral dissoluta das pessoas na capital, especialmente na corte imperial, independentemente de quem fossem. Quando a imperatriz Eudóxia conspirou para confiscar os últimos bens da viúva e dos filhos de um dignitário em desgraça, o santo saiu em sua defesa. A arrogante imperatriz não cedeu e alimentou rancor contra o arcebispo. O ódio de Eudóxia pelo santo reacendeu quando malfeitores lhe disseram que o santo aparentemente a tinha em mente durante seu sermão sobre mulheres vaidosas. Uma corte foi convocada, composta por hierarcas que haviam sido justamente condenados por Crisóstomo: Teófilo de Alexandria, o bispo Severiano de Gabala, que havia sido banido da capital por impropriedades, e outros.

Este tribunal declarou São João deposto e condenou-o à execução por insultar a imperatriz. O imperador optou pelo exílio em vez da execução. Uma multidão enfurecida reuniu-se na igreja, determinada a defender seu pastor. Para evitar um tumulto, São João submeteu-se às autoridades. Naquela mesma noite, um terremoto atingiu Constantinopla. Aterrorizada, Eudóxia pediu urgentemente ao imperador que trouxesse o santo de volta e prontamente enviou uma carta ao pastor exilado, implorando-lhe que retornasse. Mais uma vez, na igreja da capital, o santo louvou o Senhor em um breve discurso intitulado “Por Todos os Seus Caminhos”.

Os caluniadores fugiram para Alexandria. Mas, após apenas dois meses, uma nova denúncia provocou a ira de Eudóxia. Em março de 404, um concílio injusto foi convocado, decretando o exílio de São João. Após sua remoção da capital, um incêndio reduziu a cinzas a igreja de Haghia Sophia e o prédio do Senado. Incursões bárbaras devastadoras se seguiram, e Eudóxia morreu em outubro de 404. Até mesmo os pagãos consideraram esses eventos como um castigo divino pelo julgamento injusto contra a santa.

Na Armênia, o santo se esforçou ainda mais para encorajar seus filhos espirituais. Em numerosas cartas (245 foram preservadas) a bispos na Ásia, África, Europa e, particularmente, a seus amigos em Constantinopla, São João consolou os que sofriam, guiando e apoiando seus seguidores. No inverno de 406, São João foi confinado ao leito por uma doença, mas seus inimigos não se deixaram apaziguar. Da capital vieram ordens para transferir São João para a desolada Pítia, na Abcásia, às margens do Mar Negro. Exausto pela doença, o santo iniciou sua jornada final sob escolta militar, viajando por três meses sob chuva e geada. Ele nunca chegou ao seu local de exílio, pois suas forças o abandonaram em Comana.

Na cripta de São Basilisco, São João foi consolado por uma visão do mártir, que disse: “Não desanime, irmão João! Amanhã estaremos juntos.” Após receber os Santos Mistérios, o hierarca adormeceu no Senhor em 14/27 de setembro de 407. Suas últimas palavras foram: “Glória a Deus por todas as coisas!”

As santas relíquias de São João Crisóstomo foram solenemente transferidas para Constantinopla no ano de 438. O discípulo de São João, o venerável Isidoro de Pelúsio, escreveu: “A casa de David se fortaleceu e a casa de Saul se enfraqueceu. Ele venceu as tempestades da vida e entrou no repouso celestial.”

Embora tenha falecido em 14/27 de setembro, a celebração de São João foi transferida para este dia por causa da Festa da Exaltação da Santa Cruz. São João Crisóstomo também é celebrado em 30 de janeiro/12 de fevereiro.


fonte: site oca.org
tradução de monja Rebeca (Pereira)

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