FAZENDO O BEM QUE SE PODE FAZER

São João Batista enfrentou uma pergunta difícil. Soldados vieram até ele (não está claro que tipo de soldados eram). Somos informados o seguinte: “E nós, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo” [Lucas 3: 14]. A implicação de sua resposta é que a extorsão e a brutalidade eram uma prática comum. Certamente era usual em batalhas “saquear” uma cidade, e se envolver em terríveis atos de brutalidade. A resposta de São João Batista é bastante simples.

A dominação do mundo por Roma veio com um preço: impostos – muitos deles. Esses impostos não foram usados ​​para o bem público, construção de estradas, proteção policial e afins. Eles enriqueceram a César e apoiaram um projeto militar em constante expansão. Cristo disse, segurando uma moeda com a imagem de César: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. É uma resposta que gerou 20 séculos de perguntas sem respostas.

O terreno comum dentro da resposta de João e a de Cristo é o quão limitadas são em seu escopo. Nenhum deles apresenta uma teoria abrangente da história ou de arranjos cívicos. Eles se limitam à “coisa à mão”.

Os hábitos mentais da cultura contemporânea foram nutridos por teorias abstratas. Uma simples questão de assistência médica não atendida tem pelo menos a mesma probabilidade de ser encontrada com explicações do setor público e privado com a ajuda médica real. Na verdade, é mais do que provável que essas perguntas sejam sobre alguém do outro lado do país, e não sobre seu vizinho da rua.

A vida abstrata é um tormento para a alma.

Somos criados como seres encarnados: corpos animados com gosto e toque. Deus Se dá a nós em termos muito imediatos: pão, vinho, água, óleo. A Ortodoxia nos ensina que um ícone é melhor que a imaginação. Não podemos beijar imaginações. Nossos pensamentos abstratos sobre coisas que parecem importar sem dúvida são equivalentes a sonhos. Vagamos por eles, adquirindo opiniões apaixonadas que procuram nos prender a essas noções etéreas. Presos com raiva e inveja, nos encontramos distraídos. Um dia se passa e não fizemos nada, exceto entregar nossas almas a tais apegos.

Voltemo-nos para Cristo e nos perguntemos: “E nós, o que devemos fazer?”

A resposta, penso eu, é simples e imediata: faça o bem que está ao alcance.

Deus continuamente coloca diante de nós a oportunidade de fazer o bem. Seja contemplação, trabalho ou lazer, mostrando misericórdia ou orando. O bem é sempre possível. Dar atenção ao que quer que seja ao bem mais próximo nos permite evitar distrações e aliviar o tormento de nossas almas.

Ultimamente me perguntam inúmeras vezes se acho que os cristãos devem votar. Eu não tenho pensamentos sobre a questão do “deveria”. No entanto, acho que votar pode ser uma coisa boa que está “à mão”. Então deve ser feito quando estiver “à mão”, isto é, cerca de uma vez por ano em média. À medida que as pessoas ficam presas no redemoinho de paixões políticas, elas “votam” muitas vezes ao dia sem nenhum efeito. Nada mais é do que uma fantasia e uma distração, uma conversa que é um exercício de futilidade.

Quando as 55 máximas do Padre Thomas Hopko apareceram pela primeira vez, fiquei impressionado com a consistência com que apontavam para o imediato, ao pequeno, ao oculto. Relendo-os, encontrei vários deles que valem a pena considerar a esse respeito:

– Seja uma pessoa comum, da raça humana.

– Seja educado com todos, em primeiro lugar, com os membros da família.

– Seja fiel nas pequenas coisas.

– Faça o seu trabalho, então esqueça.

– Seja simples, oculto, quieto e pequeno.

– Pense e fale sobre coisas não mais do que o necessário.

– Fuja da imaginação, da fantasia, da análise, da descoberta das coisas.

– Não tente convencer ninguém de nada.

– Não tenha expectativas, exceto de ser ferozmente tentado ao seu último suspiro.

Incluí a última dessas advertências pelo fato de que uma existência tão imediata é estranhamente difícil em nossos tempos. Suspeito que nossa vida distraída e existência de fantasia não estão apenas cheias de paixões, mas também de demônios. Como não poderia ser? É sempre um conselho sábio evitar as assombrações dos demônios. Se, em seu dia, você achar difícil se afastar das distrações e voltar para o bem que está à mão, saiba que venceu a luta espiritual daquele dia, a linha de frente da batalha e aquele único lugar onde sua presença e suas orações são mais necessárias.

Os anjos e os santos vão encontrá-lo lá.


Sacerdote Stephen Freeman
tradução de Frank Pereira

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Picture of Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

Picture of Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

8 visualizações

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recentes