Hoje falaremos sobre a grande doença espiritual conhecida como egoísmo.

O egoísmo é uma paixão absurda e, literalmente, um flagelo da raça humana; todos nós sofremos desta grande doença. O egoísmo faz de tolos e de espetáculo aqueles que sofrem com ele. Deus nos chama a lutar contra esse egoísmo e derrotá-lo, a nos libertarmos dele.

A “velha pessoa” é o estado apaixonado da alma e é, literalmente, o próprio egoísmo.

Todas as paixões, todos os pecados, todas as quedas têm sua origem, seu ponto de partida no egoísmo. É um grande mal. Não nos deixa em paz, mas nos tiraniza dia e noite. Em geral, todos sofrem deste mal, eu mais do que qualquer outra pessoa, pecador que sou.

Quando estive pela primeira vez com meu santo Ancião, quando o visitei pela primeira vez naquele lugar proibido no deserto, foi lá, ao seu lado, que reconheci meu egoísmo e o vi em prática.

Quando eu estava no mundo, as pessoas da igreja pensavam que eu era uma criança abençoada. Eu não gostava que pensassem de mim dessa forma, mas aos poucos esse elogio me prejudicou. Percebi o quanto me prejudicou quando, pela graça de Deus, comecei a superar todas as minhas paixões espiritualmente.

Quando me dirigi ao Ancião pela primeira vez, ele começou sua supervisão, começou sua cura desde o primeiro dia. Tratou-me com severidade – repreendia-me constantemente, me importunava e me cansava bastante, porque eu era espiritualmente fraco.

É verdade que, quando me castigava, ou seja, quando colocava o remédio em minha ferida, doía. Meu egoísmo me atacava e dizia: Por que o Ancião é tão rigoroso comigo? Por que ele me importuna? Por que e por que de novo?…’. Reagi contra a bênção do Ancião, respondi-lhe, lutei contra ele. Muitas vezes, depois de um desabafo, eu voltava para a minha cela, pegava a cruz e chorava por Cristo crucificado, dizendo-lhe:

Meu dulcíssimo Jesus! Como Tu, Que sendo Deus sem pecado, sofreste tanto mal, tanta oposição, tantas maldições e zombarias de uma multidão que Te odiava e nutria tanta má vontade contra Ti. Em Tua paciência, sofreste tudo isso por amor a mim e à minha salvação. Quem sou eu, pecador, apaixonado e miserável, para reclamar e perguntar por que meu Ancião me dá o remédio amargo para a minha salvação? Eu mereço tudo o que recebo. Portanto, não tenho uma única desculpa e só preciso ser paciente e tomar a cruz que a Tua bondade me concede para a minha salvação.

Dirgjndo-me assim a Cristo obtive realmente grande alívio. Depois de chorar tanto, senti meu coração inchar para que eu pudesse ser paciente até o fim, para que eu pudesse ser crucificado espiritualmente e, depois disso, aceitar a ressurreição da minha alma.

Muitos exemplos de pessoas santas nos dão a coragem de tomar esta cruz, este ensinamento sobre como lidar com o horror do egoísmo. É uma paixão perversa, difícil. Ela enreda profundamente o coração. É por isso que Pimen, o grande Pai do deserto, diz que se quiseres te “extrair”, arrancar tuas paixões pela raiz, isso vai doer e vais sangrar. E essa é realmente a verdade.

Quando alguém nos repreende, nos censura, imediatamente sentimos uma resposta, uma dificuldade interna, uma reação, uma sufocação, uma pressão que nos impele a revidar, a retaliar, a ficar com raiva da pessoa que nos dominou. É nesse momento que precisamos nos fortalecer, quando, no fundo da nossa alma, temos que engolir aquele remédio contra o egoísmo. Temos que sufocar a fera selvagem que ameaça emergir de dentro de nós e nos fazer fazer o mal. A partir de então, se fizermos isso sempre que a fera estiver prestes a aparecer, ela morrerá gradualmente por dentro. Se trancares um animal selvagem em um espaço fechado e não o alimentares, não lhe der comida, depois de certo tempo ele morrerá naturalmente. O mesmo acontece com a fera selvagem do egoísmo: se não a alimentarmos, cedendo a ela, então, lentamente, pela graça de Deus, ela desaparecerá.

Uma monja se dirigiu até o Abade Pambo e lhe disse: “Abade, eu jejuo muito e como apenas a cada sete dias. Também pratico outros atos ascéticos. Decorei o Antigo e o Novo Testamento. O que mais devo fazer para alcançar a perfeição?”

O sábio Ancião lhe disse: “

“Quando alguém te amaldiçoa ou zomba de ti, sentes, interiormente, que estás sendo elogiada?

“Não”.

“Quando alguém te elogia, sentes, interiormente, como se estivesse sendo amaldiçoada?”

“Não, Abade”.

“Então vai, filha. Tu ainda nem começaste”.

Geronda Efraim de Filoteou e Arizona

tradução de monja Rebeca (Pereira)

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Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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