Vivemos em uma era em que as pessoas, muitas vezes, não se apresentam como realmente são, mas como gostariam de ser vistas. Redes sociais, ambientes de trabalho e até relações familiares se transformaram em palcos onde máscaras substituem a autenticidade. Nesse contexto, muitos confundem flexibilidade com conformismo: dobrar-se diante das pressões externas para se ajustar a um padrão que não corresponde ao que somos. Mas a verdadeira flexibilidade, à luz da Sagrada Escritura e da vida dos Santos, é justamente o contrário: é permanecer fiel a si mesmo em Cristo, sem ceder à tirania da imagem ou da aprovação alheia.
O Apóstolo Paulo nos lembra: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12,2).
Aqui está o segredo da verdadeira flexibilidade: não é adaptar-se ao mundo, mas sim adaptar o coração à vontade de Deus. Isso exige coragem para não se esconder atrás de máscaras, mas viver com transparência e verdade.
Daniel, na Babilônia, é exemplo de alguém que soube ser flexível sem perder sua essência. Ele se adaptou à língua, ao serviço real e às circunstâncias do exílio, mas não negociou sua fidelidade a Deus. Mesmo quando proibido de orar, permaneceu firme em sua prática (Dn 6). Essa é a flexibilidade que vem de Deus: encontrar maneiras de viver em um mundo hostil sem deixar de ser quem realmente somos diante do Senhor.
Os Santos Padres da Igreja ensinaram que a verdadeira liberdade está em viver segundo a verdade de nossa criação. Santo Atanásio disse: “O Filho de Deus se fez homem para que nós nos tornássemos filhos de Deus”. Isso significa que a identidade de cada cristão não está nas aparências exteriores, mas em sua filiação divina.
Os monges e mártires da Igreja Ortodoxa viveram isso com radicalidade. Muitos deles poderiam ter salvo suas vidas se tivessem apenas “representado” uma fidelidade aparente ao Evangelho. Porém, escolheram a autenticidade: preferiram morrer como filhos da luz do que viver como atores no palco do mundo.
São Máximo, o Confessor, recusou-se a negar a fé ortodoxa mesmo diante da perseguição e mutilação. Sua “flexibilidade” não foi comprometer a verdade, mas suportar o sofrimento sem quebrar sua identidade em Cristo. Ele mostrou que a verdadeira maleabilidade do cristão não é se dobrar diante das pressões, mas permanecer firme, mesmo quando o vento das aparências sopra contra nós.
Num mundo em que muitos “vivem por uma imagem”, ser autêntico é quase um ato de resistência espiritual. A verdadeira flexibilidade não é fingir ser quem não somos, mas adaptar as circunstâncias ao nosso caminho de santificação, e não adaptar a nossa fé às circunstâncias.
O ícone da vida cristã não é a máscara, mas o rosto transfigurado pelo Espírito Santo. Como disse São João Crisóstomo: “Nada é mais livre do que aquele que vive segundo a verdade”.
A verdadeira flexibilidade é permanecer firme naquilo que somos em Cristo, mesmo que o mundo exija máscaras e personagens. É viver com autenticidade, sabendo que não fomos chamados para impressionar, mas para refletir a imagem de Deus em nós.
Ser você mesmo, diante de Deus e dos homens, é a forma mais profunda de liberdade e a mais bela expressão de flexibilidade. Pois só quem é fiel à sua verdadeira essência pode, de fato, se adaptar sem se perder.
26.09.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour







