Certo monge confessou a Abba Pimen: “Meu corpo enfraqueceu, mas minhas paixões não”.
O sábio ancião respondeu: “As paixões são como espinhos” [isto é, “tatuagens”, na linguagem atual]
(Ditos dos Anciãos)
Os Ditos dos Anciãos são um produto do estado monástico que também se aplica ao estado secular no sentido da vida “no mundo”. As pessoas são as mesmas em todos os lugares, com suas paixões, fraquezas, dons e virtudes herdadas e adquiridas. Assim, conhecendo a luta travada por aqueles que desejam viver a vida em Cristo, estejam eles no mundo ou em mosteiros, percebemos que não estamos sozinhos e que a maneira como conduzimos nossa luta espiritual é necessária. Isso nos impede de nos esgotarmos ou desanimarmos.
Parece que nossas paixões nos acompanharão até o último suspiro, independentemente de ocasionalmente recuarem ou de sua intensidade diminuir. A “velha pessoa”, que herdamos ou adquirimos ao longo da vida, será sempre nossa inimiga e exercerá domínio sobre nós. Falando de si mesmo, São Paulo diz: “Miserável homem que sou! Quem me libertará deste corpo condenado à morte?” (Rm 7,24). Ele observa ainda: “Não faço o que quero, mas o que detesto” (Rm 7,15).
Mas a vida espiritual não é apenas esforço e dor, uma luta constante sem sucessos. Certamente não é composta apenas de momentos difíceis, mas também de períodos de graça, alegria intensa e repouso. Sem eles, não perseveraríamos. Além disso, por mais mergulhadas no pecado que as pessoas estejam, por mais que se submetam às suas paixões e sejam escravas delas, ainda assim, elas escondem em si a beleza do céu. Possuem dons que confirmam a imagem de Deus em seu ser.
É por isso que não devemos nos deixar vencer pelo desespero, mesmo que vejamos que as paixões não enfraqueceram dentro de nós e que nos pareça que falhamos. A palavra final na vida pertence a Deus, como Senhor do universo; não pertence ao diabo. Ele é o “Alfa e o Ômega, Aquele Que era e Que há de vir, o Senhor de todos” (Ap 1,8).
Além do poder das paixões, que são como uma tatuagem indelével em nosso ser, está Cristo, que venceu a morte. Devemos voltar todo o nosso ser para Ele, a fim de nos unirmos a Ele na oração e na observância de Seus mandamentos, nos sacramentos da Igreja. Então, por meio d´Ele, venceremos a morte dentro de nós e experimentaremos o Reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Sacerdote Andreas Agathokleous
tradução de monja Rebeca (Pereira)







