“A ROUPA NOVA DO IMPERADOR”

A famosa história do imperador que desfilou nu, enganado por falsos alfaiates, embora seja um conto infantil, guarda uma grande força espiritual. Ela fala sobre vaidade, medo da verdade e o poder que a má companhia exerce sobre o coração humano. O imperador vivia preso ao próprio reflexo. Não se preocupava com seu povo nem com a missão que seu cargo exigia. Alimentava apenas a aparência, como tantos que, hoje, preferem o elogio à honestidade. Ao surgir a promessa de uma roupa “visível apenas aos inteligentes”, seu coração já estava preparado para cair no engano. O orgulho torna qualquer pessoa vulnerável a conselheiros errados.

Os dois vigaristas representam exatamente isso: influências que se aproveitam da vaidade e do medo. Eles não precisaram provar nada. Bastou que as pessoas ao redor também estivessem presas ao julgamento dos outros. Um ministro não quis confessar que não via tecido algum. O outro repetiu a mesma mentira. Cada um escolheu o aplauso, mesmo sabendo que enganava a si próprio.

Na espiritualidade da Igreja Ortodoxa, o coração que teme a opinião alheia perde a liberdade interior. Os Santos Padres ensinam que quem alimenta o orgulho abre espaço para a cegueira espiritual. Quando alguém se cerca de conselheiros errados, aduladores ou companhias que não falam a verdade, perde o discernimento e começa a caminhar rumo à queda.

A procissão do imperador é quase uma parábola da vida espiritual. Ele segue confiante, acreditando numa grande mentira, enquanto as pessoas repetem elogios vazios. Assim acontece quando deixamos que as falsas vozes — do ego, da vaidade, da busca de aprovação — abafem a consciência. A verdade se torna invisível porque ninguém tem coragem de pronunciá-la.

Mas Deus sempre levanta uma “criança” na nossa vida. A criança da história é símbolo da pureza de coração que Cristo nos pede. Seu olhar não estava contaminado pelos medos dos adultos. Ela não buscava status, nem tinha receio de parecer tola. Apenas disse o que via. A voz da criança é a própria consciência iluminada por Deus.

Naquele instante, toda a ilusão caiu. A verdade, quando é dita com simplicidade, tem força para quebrar até as mentiras mais bem construídas. O imperador sentiu vergonha, mas mesmo assim continuou andando. É o retrato de muitos que, mesmo vendo a verdade, preferem não voltar atrás para não admitir fraquezas.

A lição que a Igreja nos oferece é clara: Acompanhar-se de pessoas que falam apenas o que queremos ouvir é um perigo espiritual. Ouvir conselheiros errados nos leva à cegueira. E fugir da verdade nos deixa expostos, como o imperador, diante de todos. Por outro lado, cercar-se de pessoas de alma limpa, capazes de dizer a verdade com amor, preserva nossa vida interior e nos mantém no caminho de Deus.

No fim, a história nos lembra que a verdade pode ser ignorada por um tempo, mas nunca para sempre. Mais cedo ou mais tarde, ela aparece — muitas vezes pela voz simples de quem não tem nada a perder, apenas a sinceridade a oferecer. Peçamos a Deus, à luz da espiritualidade ortodoxa, um coração simples como o da criança, e a coragem de ouvir e falar a verdade, mesmo quando todos ao redor preferem a ilusão.


28.11.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour

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Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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