A maior vitória de um cristão não é vencer os outros, mas vencer a si mesmo. Às vezes, é preciso engolir o orgulho, engolir as palavras, mastigar o ego e admitir: “Eu estava errado.” Isso não é desistir, é crescer. Na vida espiritual, esse gesto vale mais do que qualquer conquista exterior, porque revela a presença de Cristo em nosso coração.
A Sagrada Escritura nos ensina que o orgulho é a raiz de muitos males. O livro dos Provérbios adverte: “O orgulho precede a ruína, e o espírito altivo, a queda” (Provérbios 16:18). O orgulho nos faz cegos diante da verdade, surdos à voz de Deus e distantes dos irmãos. Já a humildade, ao contrário, nos reconcilia com a realidade, nos aproxima do próximo e abre espaço para a graça divina.
São João Clímaco, no Escada do Paraíso, afirma: “O arrependimento é a reconciliação com o Senhor, por meio da prática da humildade.” Essa reconciliação só acontece quando temos coragem de reconhecer que falhamos. O ego tenta nos convencer de que admitir o erro é fraqueza, mas na verdade é o início da cura. O coração orgulhoso é como um vaso fechado: não recebe água, não se renova. A humildade o abre para que o Espírito Santo o purifique e o preencha.
São Basílio, o Grande, dizia que “aquele que se humilha não perde a dignidade, mas a reencontra em Cristo”. E São João Crisóstomo lembrava que “Deus pode transformar até os erros em fonte de sabedoria, quando o coração se arrepende sinceramente”. É por isso que reconhecer o erro não destrói a alma; antes, a fortalece.
Quando Pedro negou o Senhor, ele chorou amargamente. Não buscou desculpas nem culpados. Aquelas lágrimas o libertaram do peso do orgulho e o tornaram capaz de amar e servir com autenticidade. Pedro cresceu espiritualmente quando se rendeu à verdade sobre si mesmo.
Quantas vezes nós também precisamos dar esse passo! É mais fácil justificar-se, acusar os outros, ou fingir que nada aconteceu. Mas o Evangelho nos chama a outro caminho: o da metanoia, a conversão do coração. Essa mudança não acontece de um dia para o outro; ela se constrói nas pequenas mortes do ego, nos pedidos de perdão sinceros, nos silêncios que evitam ferir, nas palavras engolidas por amor.
Engolir o orgulho é deixar que Cristo fale em nosso lugar. E quando Ele fala, a paz retorna, as feridas se curam e o coração aprende o verdadeiro significado da maturidade espiritual: não é ter sempre razão, é ter sempre amor.
Crescer, na fé, é exatamente isso: permitir que o amor de Deus seja maior que o nosso ego.
27.10. 2025
+ Bispo Theodore El Ghandour
