A FIRMEZA DO CORAÇÃO FRENTE ÀS VOZES CONTRÁRIAS

Na vida cristã, nem sempre o caminho é pavimentado com aplausos. Às vezes, a fidelidade a Cristo provoca inquietação nos outros, e isso pode gerar rejeição, suspeitas e até hostilidade. Não é fácil lidar com isso, mas não é novidade na história da salvação. Quando alguém decide caminhar com sinceridade diante de Deus, inevitavelmente tocará sensibilidades, quebrará ilusões e, sem perceber, despertará desconfortos.

É natural sentir tristeza quando percebemos que alguns se levantam contra nós. Mas a tradição da Igreja sempre nos orienta a olhar além da reação imediata. O verdadeiro perigo não está no que os outros dizem; está no que pode nascer dentro de nós quando deixamos que a amargura encontre espaço no coração.

Os Santos Padres repetem de muitas formas que o pior seria se todos nos amassem. Isso não porque devamos buscar conflitos, mas porque o excesso de aprovação pode ser sinal de que estamos agradando demais aos homens e de menos a Deus. A vida de Cristo deixa isso claro. Ele curou, ensinou, perdoou, consolou – e ainda assim foi rejeitado, criticado e, por fim, crucificado. Se o próprio Senhor, que é a luz perfeita, enfrentou oposição, por que esperaríamos nós um caminho sem contrariedades?

Nossa tarefa não é acumular simpatias, mas permanecer fiéis ao Evangelho. Não se trata de indiferença ou dureza, mas de reconhecer que a opinião dos outros não é o critério último da nossa vida. O critério é Cristo. Ele disse: “Se Me perseguiram, também vos perseguirão.” Isso não é uma ameaça; é um convite à maturidade espiritual.

O ponto essencial está na vigilância interior. Mais grave que o ódio externo é o ódio que pode surgir dentro de nós quando nos sentimos feridos. Guardar o coração é uma disciplina diária. A tradição hesicasta insiste nisso: vigiar cada movimento interior, para que a raiva não se torne raiz, para que o ressentimento não se transforme em hábito, para que o orgulho não cresça disfarçado de justiça própria.

Somos chamados a manter a consciência pura, não por ingenuidade, mas por fidelidade.

Quando o coração permanece claro diante de Deus, nada de fora consegue nos desviar. As críticas podem nos entristecer, mas não nos quebram. As injustiças podem nos atingir, mas não nos desviam. A vigilância constante, unida à humildade, nos lembra que a maior vitória espiritual não é vencer debates, mas preservar a paz interior.

Aos olhos da fé, cada oposição se torna um convite ao discernimento. Não para justificar nossas falhas, mas para aprofundar nossa confiança em Deus. Não para alimentar disputas, mas para cultivar misericórdia. Não para endurecer, mas para crescer.

No final, o verdadeiro sinal de maturidade cristã não é ser amado por todos, e sim continuar amando mesmo quando alguns nos rejeitam. É isso que nos aproxima de Cristo. É isso que dá peso à nossa oração. É isso que sustenta o nosso ministério, a nossa missão e a nossa dignidade diante de Deus.

Quando alguém se levanta contra nós, o mais importante é que nós não nos levantemos contra eles dentro do coração. Se guardarmos essa vigilância, permaneceremos no caminho da luz. E nele, nunca caminharemos sozinhos.


26.11.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour

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Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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