A BUSCA POR DESTAQUE E O EMPOBRECIMENTO DA VIDA EM COMUM

Há um tipo de competição que não nasce do desejo de servir, mas da vontade de aparecer. É a corrida para ser o primeiro a ser visto, o primeiro a ser lembrado, o primeiro a ser aplaudido. Esse espírito, tão comum na vida civil, também aparece dentro da vida eclesial quando não vigiamos o coração. A ânsia por ser o primeiro é, antes de tudo, uma crise do interior humano. Ela não constrói nada. Não fortalece instituições. Não edifica comunidades. E muito menos alimenta a alma.

A tradição da Igreja Ortodoxa sempre ensinou que grandeza não está ligada à posição que ocupamos, mas ao modo como servimos. Cristo alertou os discípulos quando eles discutiam quem seria o maior. Ele colocou uma criança no meio deles para ensinar que a verdadeira estatura espiritual nasce da humildade e da simplicidade. Os Santos Padres dizem que ninguém sobe aos céus carregando títulos, mas carregando um coração purificado.

Na vida civil, a busca por ser o primeiro costuma gerar relações frágeis, competitividade vazia e ambientes onde cada um tenta puxar atenção para si. Em vez de cooperação, vemos divisões. Em vez de maturidade, vemos disputas infantis. As pessoas gastam energia com comparações que só alimentam insegurança. Esse tipo de competição não acrescenta nada ao crescimento pessoal porque não é guiado pela verdade, mas pela vaidade.

Na vida espiritual, o risco é ainda maior. Porque aqui não se trata apenas de convivência humana, mas do caminho da salvação. Quando alguém quer ser o primeiro dentro da Igreja, perde de vista o próprio sentido da fé. Os Padres alertam que o orgulho espiritual é mais perigoso que qualquer tentação visível. Ele engana a pessoa, faz com que ela acredite que está servindo a Deus enquanto, na verdade, está servindo ao próprio ego.

A Igreja não é uma arena. A paróquia não é um palco. O serviço cristão não é uma disputa por medalhas. A vida espiritual é um caminho onde cada um é chamado a vencer a si mesmo, não o irmão que está ao lado. Santo Isaac, o Sírio, lembra que quem escolhe a humildade nunca perde, porque a humildade abre a alma para a graça. A competição banal, ao contrário, fecha a alma e acorrenta a pessoa à comparação constante.

O resultado é previsível. Nem a vida civil cresce, porque se torna um espaço de brigas inúteis. Nem a vida eclesial floresce, porque perde a paz. Nem a vida institucional avança, porque falta unidade. Onde cada um tenta ser o primeiro, ninguém amadurece.

A cura para essa crise começa com um gesto simples. Olhar para Cristo. Ele não disputou com ninguém. Ele não exigiu lugares de destaque. Ele lavou os pés dos discípulos. Ele nos mostrou que grande é quem faz o bem em silêncio. Que forte é quem renuncia ao próprio brilho para que o outro respire. Que santo é quem busca o último lugar porque sabe que, no Reino, o último não é esquecido.

Se queremos comunidades vivas e instituições coerentes, precisamos recuperar esse espírito. A alegria de trabalhar juntos. A beleza de cada pessoa oferecer seu talento sem alimentar vaidades. A maturidade de saber que o bem feito em conjunto vale mais do que qualquer vitória individual.

Ser o primeiro, no sentido cristão, não é superar o outro. É superar a si mesmo. É renunciar à comparação que destrói. É cultivar a humildade que cura. Quando isso acontece, a competição banal desaparece e dá lugar à cooperação que transforma. E então, de fato, a vida civil cresce, a vida espiritual floresce e as instituições respiram paz.

17.11.2025
+ Bispo Theodore El Ghandour

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Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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